segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dois de Paus de novo

porque amores são sempre possíveis

Os relacionamentos interpessoais entre personagens urbanos e contemporâneos sempre foi a minha obsessão artística. E acho que foi o profundo desejo de falar do hoje e do agora que me levou para a dramaturgia. Antes, eu era apenas um ator – um ator com pouca voz, que tinha que me contentar com as histórias que os outros queriam contar e servia apenas de instrumento para a comunicação entre o diretor ou autor e o público. Não que isso seja pouco, mas simplesmente não me satisfazia.

Então, numa oficina de dramaturgia com a Isís Baião comecei a esboçar o meu terceiro e mais bem-sucedido texto para o teatro: o Dois de Paus, de 2004. A história narra os encontros e desencontros amorosos de dois jovens homens que, depois de um encontro quase causal pela internet, decidem investir na relação e vivem um casamento absolutamente comum: cam muito amor, momentos de total incompreensão, parceira, poupança para a aquisição da casa própria, o dilema de ter ou não filhos, a programação das férias na Europa. Tudo dentro do script.

Dois de Paus estreou em 2005, aqui em Brasília. E foi o maior sucesso do ano do teatro candango. E em meio a polêmicas, filas e filas de espera e várias sessões extras, fomos agraciados com o prêmio Palco Giratório, uma iniciativa do SESC Nacional, que nos levou para mais de 30 cidades, em todas as regiões do país.

Por todos os lugares que passamos, o sucesso se repetiu: no interior do Ceará ou na fronteira com a Argentina; em Rio Branco ou no Rio de Janeiro, as plateias receberam muitíssimo bem a nossa produção. E todo mundo se identificou um pouco, ou muito, com os divertidos e possíveis personagens do enredo.

Agora, em 2009, quatro anos da estreia, revisto o espetáculo. E como não poderia ser diferente (e que bom que sou o autor) alterei muito do original: troquei o elenco (estou velho para o papel – pronto, falei), assumi a direção, concebi a iluminação, tenho novo figurinista, novos produtores, cenário, trilha sonora... É tudo novo de novo.

Confesso meu receio de remontar um sucesso, mesmo que ele tenha sido meu. Afinal, a História não nos deixa enganar – sabemos dos perigosos se refazer coisas já consagradas. E as comparações podem mesmo ser cruéis. E foram.

Mas hoje, no encerramento da temporada de estreia desta nova versão, fico muito feliz de ter topado a empreitada. Consegui me expressar por inteiro dessa vez. Todas as mudanças, significativas, me representam muito melhor. Eu voltei a me apaixonar pelo projeto. Sim, porque depois de dois anos ininterruptos de muita intensidade com a versão original eu só queria que tudo acabasse e que pudesse voltar pra minha vida – eu fiquei com saudades de mim mesmo.

É que amores são mesmo sempre possíveis.

Um comentário:

Sérgio disse...

Eu me apaixonei de novo pela peça. Sou a prova cabal de que amores são sim sempre possíveis.